O gospel
é, por natureza, um género de música inclusiva. A flexibilidade em permitir a
qualquer intérprete traduzi-la em algum estilo musical, desde os mais eruditos
até aos mais populares, faz do gospel uma música que não excluiu a ninguém.
Ainda assim, em Moçambique, país focado na produção massiva de ritmos seculares
e, não raras vezes, com qualidade repreensível, é pouco conhecido.
Em
Chimoio, Beti Mutunguazi, a concertista-gospel do grandioso mês de Março,
momento em que o mundo celebra o Dia da Mulher, têm consciência desta
realidade. Por isso, concebe o seu espetáculo agendado para o dia 25 de Março
no Cine Montalto, como um movimento contra essa corrente. “Queremos que as
pessoas conheçam a Beti e, a partir dela, a música gospel. É importante que se saiba
que independentemente de ser ou não cristãs – as pessoas podem gozar da música
gospel”, refere.
Nascida
em 1992, no Zimbabwe onde os seus pais refugiaram-se da guerra civil que fazia
de Moçambique o teatro das operações (hostis à vida humana), além do ativismo
no Grupo Dominical da Igreja, ainda na infância, Beti Mutunguazi teve a
oportunidade de cultivar os seus dons artísticos – o canto e a dança – no
centro cultural local do país vizinho sob a direção da grande estrela da música
africana e mundial, Oliver Mtukudzi.
Em 2008,
aos 16 anos de idade, representando a província de Sofala, a concertista
participou no programa Fama Show, “um reality show, realizado em Maputo que me
redundou noutra experiência artística extraordinária”, recorda.
Portanto,
com uma experiência humana secular um pouco tenebrosa, dada a guerra que
arrastou os pais para o Zimbabwe, e outra cristã, hoje Beti sabe separar o
trigo do joio: “como disse, fui bailarina de Oliver Mtukudzi, então já sei como
as coisas funcionam por lá. Quando recebi a Jesus Cristo, entendi que, cantando
ou dançando, tenho de usar esse dom para Deus, porque Ele mudou a minha vida.
Deus tocou-me e tirou-me da poeira”, enfatiza.
Desde
sempre, a rainha do gospel Bati Mutunguazi foi fã da canadense Celine Dion –
daí o acentuado domínio do soul-music que possui. Neste momento sua musa no
campo da música secular é a sul-africana Judith Sephuma. Porém, no mundo gospel
admira o norte-americano Donnie McClurkin e a brasileira Ludmila Ferber.
Para
tanto, faz sentido a sua definição de gospel como sendo a utilização da música
para transmitir uma mensagem construtiva às pessoas. Uma mensagem que, uma vez
escutada, pode mudar a vida de alguém para o melhor. De qualquer modo, “o
gospel que eu canto é o que transmite a mensagem de Deus – em forma de louvor
ou outras, mas sempre para Deus”.
Além da
sua Banda Som do Reino, criada em 2015, para o concerto de 25 de Março atuará,
na condição de convidado especial, o músico Abel Laste. Porém, a ementa ainda
inclui grandiosos intérpretes-gospel provenientes da cidade da Beira, Zion
Felimone, Hélder Simos e Zito Chimbia. Entre vários artistas e bandas-gospel
locais encontram-se os Triunfantes do Rei.
Segundo
Beti, ainda que essa não seja ocasião para o lançamento oficial do seu álbum
Mandikoshera, a artista irá expor para o público algumas músicas que enformam o
seu disco composto por géneros como o Afro-music, o Soul-music e Raggae.
A
diversificação de estilos musicais, nas suas atuações, é uma das estratégias
que fazem dos concertos de Beti uma experiência única e inclusiva para os
espectadores.
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